O Brasil está em dívida também com a saúde das crianças. Mentiras espalhadas nas redes sociais fizeram cair a vacinação contra doenças altamente contagiosas.
O mesmo país que avançou com a vacinação contra a Covid recua no combate a outras doenças.
“É bom a gente tomar para se prevenir de doenças”, diz Sophia Gonçalves dos Santos, de 12 anos.
A carteirinha de Sophia não estava em dia contra a meningite. Dados do Ministério da Saúde revelam que a cobertura vacinal contra a poliomielite caiu de 84%, em 2017, para 66% em 2021. Contra a tuberculose, de 97% para 65%.
Já a adesão à primeira dose contra sarampo, caxumba e rubéola passou de 86% para 70%, e a cobertura para a segunda dose dessa vacina não atingiu nem 50%.
Levantamento feito pelo médico especialista em saúde pública Adriano Massuda, com base nos dados do SUS, mostra a trajetória da cobertura das vacinas voltadas ao público infantil.
A partir de 1994, ela cresceu ao longo dos anos, com algumas oscilações, até que, depois de uma taxa de 95% em 2015, o índice caiu bruscamente no ano seguinte. Voltou a subir e depois houve uma nova queda, chegando a 60% em 2021.
As vacinas formam uma espécie de barreira contra as doenças. Quando o país deixa de atingir a meta de imunização, corre o risco de voltar a ficar vulnerável a males já superados. Isso significaria perder uma das maiores conquistas na área da saúde: o controle de diversas doenças.
Além do receio de frequentar unidades de saúde na pandemia, são vários os motivos que ajudam a explicar essa queda na vacinação infantil.
O médico Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, aponta, entre eles, o desabastecimento de vacinas, unidades de saúde com horários limitados, a percepção errada de que as doenças não representam mais riscos e, especialmente, as mensagens falsas, as fake news.
“Uma das principais causas da queda da cobertura vacinal é a perda de confiança nas vacinas através de veiculação de notícias falsas, equivocadas sobre a vacinação, que às vezes faz mais vítimas do que a própria doença. Eu costumo chamar de uma doença digitalmente transmissível”, enfatiza.
Segundo o médico Adriano Massuda, o problema também está ligado à redução de verbas destinadas a equipes de saúde da família.
“Não só um corte de verba, mas uma piora na alocação dos recursos existentes, e essas equipes são fundamentais para garantir a cobertura vacinal, seja para ofertar a vacina para quem vai até o posto de saúde, mas, sobretudo, para fazer a busca ativa”, destaca.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, disse que a pasta tem feito pesquisas para entender as causas da baixa cobertura.
“O que a gente espera é que, após feito esse diagnóstico e identificada as possíveis falhas que existem nesse sistema, a gente contribuir de forma significativa para recuperarmos a vacinação no país”, define.
O Ministério da Saúde informou também que fortalecer a assistência à atenção primária, que presta serviços essenciais à população, é uma das prioridades do governo federal.
Rosângela Araújo dos Santos, mãe de Valentina, não perde a data de nenhuma vacina.
“Tem que fazer, é saúde”, diz a dona de casa.
E Valentina mostrou que a reação que teve à vacina foi só a de espalhar alegria.